Dia 10 de maio fez três anos da viagem mais incrível do mundo. A
viagem que deu origem a esse blog. É praticamente impossível definir o quão
transformadora foi essa experiência, mas sempre que me lembro de algum momento sinto profundamente a intensidade de tudo o que aconteceu.
Há três anos me vi completamente perdida, comigo e com tudo o que
acontecia ao meu redor. Apesar de sempre ter os melhores amigos por perto, cheguei a conclusão de que eu precisava fazer algo por mim e sozinha. Foi
quando decidi colocar a mochila nas costas e desbravar essa América Latina maravilhosa,
cheia de cores, força e luta.
Começar por Córdoba na Argentina não foi sem querer, sempre quis
conhecer a cidade onde aconteceu a reforma universitária mais importante da
América, protagonizada por estudantes que assim como eu, buscavam uma
transformação social através de mudanças na estrutura de uma universidade conservadora. O meu interesse por Córdoba também veio com o Projeto Córdoba desenvolvido no Colégio de Aplicação onde estudei por três anos, porém, não pude
fazer o intercâmbio promovido pelo projeto na época.
Na Argentina, também passei por Buenos Aires, Salta e Mendonza, esta
última cidadezinha ficou marcada em mim tanto pelas pessoas que conheci quanto pelas aventuras que passei, a ponto de ser roubada e precisar vender
algumas roupas para passar a semana. Hahahah! Os amigos que fiz lá estão comigo,
na minha memória e no meu coração.
A Argentina foi um tipo de preparo para tudo o que viria pela
frente, foi o começo da viagem que me
trouxe um milhão sensações.
O próximo objetivo depois da Argentina era chegar à Bolívia, desse
modo, fui até a fronteira de ônibus para atravessar a alfândega. A troca de
culturas foi impressionante e no caminho da alfândega até a cidadezinha mais
próxima à rodoviária vi outro mundo pela janela. Quanta pobreza, quanta cor e
quanta vida a Bolívia carregava. Visitei Sucre, Potosí e La Paz, procurando
sempre sentir as pessoas, conversar, caminhar horas sem rumo. Conhecer tudo de
perto foi incrível, mas também me entristeceu ver tanta desigualdade
escancarada. Tinha vezes que eu sentia tanta raiva de tudo o que via que dava uma vontade imensa de gritar, de mudar tudo assim, com um grito.
Depois da Bolívia parti para o Peru, para Cuzco, mais precisamente.
Uma viagem longa, 30 horas de ônibus de La Paz. No caminho, mais amigos. Cuzco foi
uma loucura! Cheia de turistas e cheia de história. Fui à Machu Picchu da
forma mais roots possível e quase chorei quando parei em um canto daquelas
construções (sem a voz do guia) e percebi a grandeza dos Incas. Tocar naquelas
pedras chegava a arrepiar, quanta energia! A volta de Águas Calientes foi bem
intensa, peguei um ônibus junto com trabalhadores que iam pra Cuzco, o ônibus
precário, descia aqueles morros passando pelas beiradas. Mas era engraçado, eu
não sentia medo. Ficava hipnotizada com as montanhas cobertas de neve e com a
profundeza daqueles precipícios. Eu pensava que se morresse ali, morreria
absolutamente feliz.
É claro que nunca conseguirei colocar em palavras tudo o que
aconteceu comigo nessa viagem. Ao longo dela eu escrevi um diário, mas são
pensamentos tão meus que me sinto incapaz de transcrevê-los publicamente. O que
posso dizer, além dessas pequenas histórias contadas acima, é que tudo o que
vivi nessa viagem me tornou uma pessoa mais livre e também mais forte, para
enfrentar e mudar esse mundo tão injusto e que vai muito, mas muito além da
nossa janela.